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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Elefante

Esse apartamento rangendo em mim,
velhas histórias e a madeira velha.

Desconhecê-lo me torna intímo,
meus armários e meus objetos enfreados em dor
tão seus,
minhas louças intimas empilhadas em delicadezas.
O que me guarda aqui é só um espaço para vermes,
em cada quina, cada dobradiça.

Restarão somente as gavetas jogadas ao chão,
E mesmo assim serei feliz, direi a língua de deus:
me habitando.
o quanto o Sofrer me alimenta.

Não há mais um chão que se pise;
O amor é para nós, querida,
Suicidas Vultuosos.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Realidade Digital.

No meio do shopping center uma senhora procurava por uma loja que trabalhasse com impressão de fotografias em formato digital. Ela estava sozinha. Usava um vestido vermelho e uma manta branca. Não entendia nada de fotografia digital. Do lado de fora do shopping center um carro muito luxuoso a esperava, o carro é do filho, o orgulho da mamãe. Entrando na loja, pelo simples desprazer da idade, ela revelava a história de cada foto para o atendente. Apesar do péssimo humor de segunda-feira, ele ouviu cada história muito atentamente. Até um momento em que ela conta de uma garota que o filho conheceu na praia, e, mostrando a foto, disse que a menina parecia muito infeliz. O funcionário perguntou discretamente o motivo que levou a senhora a pensar aquilo. Ela lhe disse que nunca uma garota resistira aos encantos do filho.

Depercebidamente, ele enxuga os olhos com o dedo como quem tenta tirar um cisco.
Chorando discretamente na copiadora, depois de desligar a máquina de revelação, o atendente da loja pegou uma câmera e tirou uma foto como se fosse a coisa mais

preciosa do mundo.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Início

O senhor levava o seu neto para um passeio no parque. O menino ficou encantado com tantas luzes, tanta gente. O senhor estava acostumado. O menino quis ir em todos os brinquedos, de preferência, aqueles que lhe dariam maior adrenalina, como a montanha russa. Foi quando o jovem viu uma garotinha que aparentava ter a mesma idade que a sua, conduzindo-a pela mão, convidou-a para andar na roda-gigante.

Lá embaixo, o rosto do vovô estava feliz. Mas mesmo assim, havia uma lágrima.

Fim

No apartamento me disfarço por entre as quinas da parede. Observo cada inseto escondido pelas madeiras, rangendo. Há cumplicidade, tanta. É tanta calma que me temo. Frente a mim há a espera de uma mãe; que chora todos os dias.

Observo-me com os nervos tensos naquele choro. Sabemos quando o choro pode matar, porque ele tem direção. Lá está ela, novamente na velha janela. Recebendo todas as gentes que um dia carreguei comigo. Ela está tão vulnerável, vejo-a com a transparência de uma vidraça.

Procuro sua linguagem e tomo o asfalto como seu túmulo imediato. Separo o que tanto me pertence e nela está. Ela chora a morte do filho, abrindo os braços para alçar seu repentino vôo de liberdade.

Não conseguirá ir longe.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Pardo.

Eram as cores impressas no chão
- Algum papel picado -

Escorriam até o ralo,
Enquanto a água morna que em breve
vaporiza

Eram cores impressas no chão
- dos que choram -

O canto fácil do pássaro
que entoa
quando as cores
entre poeiras, esquinas e eu
- imóvel -
parto por desconhecê-lo, amor.

E te espero, com a boca entreaberta,
dizendo o incomunicável
descrevendo as cores que cabem;
no que me é nuvem.